Prémios Nobel da Paz e da Literatura 2015

O Comité Nobel da Noruega atribuiu ontem, 9 de Outubro, o Prémio Nobel da Paz ao Quarteto para o Diálogo Nacional na Tunísia que integra quatro organizações chave da sociedade civil deste país: A União Geral dos Trabalhadores da Tunísia (UGTT), A Confederação de Indústria, Comércio e Artesanato da Tunísia (UTICA), A Liga dos Direitos Humanos da Tunísia (LDHT) e da Ordem Nacional dos Advogados da Tunísia (ONAT). Este quarteto contribuiu para a construção de uma democracia pluralista após a Revolução de Jasmim, uma sucessão de manifestações decorridas na Tunísia entre Dezembro de 2010 e Janeiro de 2011. As insurreições começam após o suicídio de Mohamed Bouazizi, vendedor de frutas e verduras que não conseguiu uma licença para trabalhar na rua e, desesperado, ateia fogo ao próprio corpo. Esta tragédia estimula uma onda de revoltosos na Tunísia, cujos protestos se alastram pelo mundo árabe do norte da África ao Oriente Médio pugnando pelo fim do desemprego, das ditaduras, da pobreza e das violações dos direitos humanos e por liberdade de expressão.Como resultado, Zine el-Abidine Ben Ali, em funções como Presidente da República desde 1987, deixou o poder.

No dia anterior o Prémio Nobel da Literatura 2015 tinha sido entregue à escritora e jornalista bielorrussa Svetlana Alexievich nas premissas da sua obra constituir "um monumento polifónico ao sofrimento e à coragem no nosso tempo". Segundo a secretária permanente da Academia, Sara Danius, Svetlana reagiu à notícia que tinha ganho o prémio apenas com um "Fantástico". Para Danius, a autora que não escreve ficção nem poesia escreve não "uma história de factos mas uma história de emoções" e "oferece uma história do ser humano, uma história de emoções e uma história da alma", sendo "uma escritora extraordinária". Desta forma, Svetlana inaugura um novo género literário no qual acontecimentos históricos (como o desastre de Chernobil e a guerra soviética no Afeganistão) servem para descrever os indivídios soviéticos e pós-soviéticos. Para realizar o seu trabalho, a escritora e jornalista entrevista centenas de crianças e mulheres.

Nascida na Ucrânia a 31 de Maio de 1948, filha de pai bielorrusso e mãe ucraniana, a escritora trabalhou como jornalista após deixar a escola. O seu primeiro livro "Wars Unwomanly face" foi editado em 1985 e conta a história de quase um milhão de mulheres soviéticas que estiveram na frente de combate na II Guerra Mundial. Opositora do regime, Svetlana já viveu na França, Itália, Alemanha e Suécia. Reside actualmente em Minsk. Em Portugal tem editado o livro "O Fim do Homem Soviético" pela Porto Editora, a que deve suceder "Vozes de Chernobil" em 2016, obra que levou dez anos a ser escritas e reúne testemunhos do maior desastre nuclear da história. Svetlana critica ferozmente a repressão e políticas russas afirmando categoricamente "Respeito o mundo russo da literatura e da ciência mas não o mundo russo de Estaline e Putin".

Desde que foi instaurado, o Prémio Nobel da Literatura já foi entregue 112 vezes. Svetlana Alexievich é a 14ª mulher a receber esta distinção, juntando-se a nomes como Selma Lagerlof, Pearl Buck, Gabriela Mistral, Nadine Gordimer, Toni Morrison, Elfriede Jelinek, Doris Lessing, Herta Muller e Alice Munro.