Namorar na era digital

Quando estava no 9º ano numa aula de Francês, a professora fez-nos ouvir uma música de Lara Fabian "Les amoreux de l'an 2000". Lançada em 1996 integrando o àlbum "Pure" esta faixa haveria de revelar-se visionária e espelho da sociedade actual. De facto, cada vez mais temos um mundo em que as pessoas "transmitem por computador cada um dos batimentos do seu coração", e "se sintetizam em vários sentimentos estéreis que se electrizam e informatizam", em que "um encontro mágico passa por um módulo de plástico". No refrão a cantora pede para lhe esvaziarem a cabeça deste metal e reanimarem o animal em si.
Um namoro na era digital pode ter algum significado mas é vazio em muitos sentidos. Primeiro que tudo somos seres visuais que precisam de todos os cinco sentidos para conhecer uma pessoa (toque, cheiro, modo de falar) para chegar a uma esfera abstracta em que sentimos se aquela pessoa é boa ou não para nós, se podemos confiar nela ou pelo contrário devemos fugir a sete pés. Na Internet não podemos servir-nos do nosso sexto sentido porque as informações que recebemos estão incompletas e como tal podemos formar juízos erróneos, exagerar virtudes e fechar os olhos a defeitos muitas vezes graves. Nesse caso quando as pessoas se conhecem pessoalmente, caso a tal chegar, a desilusão instala-se e sentimos toda a raiva e impotência de termos andado a perder o nosso tempo com falsas amizades, falsos amores, falsos tudo.
Há excepções, claro está mas nesses casos o amor só começa a florescer realmente quando há um encontro fora do mundo virtual, cara a cara e onde podem constatar que os esboços de sentimentos que sentiam antes se tornam mais fortes e sólidos com a convivência, com o olhar nos olhos, o trocar de carinhos e o entrelaçar de mãos.
A verdade é que é difícil conhecer alguém profundamente e manter uma relação duradoura quando as distracções são tantas e as tentações igualmente tão abundantes. Um casal tem de fixar continuamente os olhos um no outro, os dois têm de ser um só sempre ao mesmo que crescem individualmente, que aprendem, que cometem erros e os corrigem, que no fundo se descobrem, realizam e evoluem como parceiros e seres humanos.
O amor é belo quando é natural, orgânico, no que tem de chama e de terra a terra, no que tem de asas e de aquático, no que nos ensina e nos faz compreender. É por isso que vale a pena lutar por ele, tendo como preferência que este não seja ilusão das nossas cabeças e encontre expressão aqui, no mundo real.


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