A tragédia do ser
Os primeiros meses deste ano não se mostram risonhos: o massacre na redacção do jornal Charlie Hebdo, a queda do avião nos Alpes matando 150 pessoas, o Estado Islâmico a destruir património de incalculável valor arqueológico e a executar pessoas barbaramente tingindo a sangue um ano que deveria ser de transição mas é de muita confusão e dor. No caso dos Alpes lança-se o debate de onde está a fronteira entre um ser doente e logo diminuído de certa forma e um assassino e de que forma não estamos a contribuir para que se prolongue o estigma de ter uma doença mental. A justiça tem penas mais leves para os crimes passionais ou comprovando-se que foram fruto de insanidade temporária mas não é todo o mal uma doença a precisar de tratamento urgente? Não é ser destrutivo insano quando deveríamos querer ser bons e produtivos. Que felicidade pode haver no crime?
É tão fácil não acreditar em Deus quando o infortúnio ou azar nos bate à porta. É tão fácil não querer argumentos nem compreender. Como pensar em perdão quando há vítimas inocentemente arrastadas por uma maré megalómana? E no entanto sabemos que somos mais que as nossas diferenças, doenças ou crenças de "O meu Deus é o único verdadeiro". Somos como crianças a observar o mesmo céu estrelado, a fazer as mesmas perguntas sem ter as respectivas respostas, muitas vezes a desperdiçar tempo precioso da juventude e a tentar entender porquê o gato caça o rato e assim sucessivamente. Somos feitos de amor, de medos e de fantasias e de toda uma teia de complexidades que nos impele a enfrentar as tragédias e de todas a mais evidente e inevitável à nossa condição: que todos os nascimentos acabam com a morte. Então, se for possível que não deixemos morrer os nossos sonhos e sejamos assim amortalhados em vida.
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