O preço da nostalgia
Quod me nutrit me
destruit. O que me nutre
mata-me. O amor é uma doença que apenas pode ser curada pelo que nos inflige
esta dor. Reza a lenda que o heroi Aquiles ao matar a amazona Pentesileia se
apaixonou por ela. Terá sido por olhar nos últimos instantes de vida uma mulher
tão corajosa, uma guerreira como ele? Que amor pode ser esse que apenas
acontece quando já não há esperança de se concretizar? Que sonhos são
esses que temos e já não se podem materializar? Porque continuamos a sonhar com
as crianças que nunca fomos, a adolescência que não tivemos e mantermos essas
fantasias e desejos ao entrar bem na idade adulta?
Temos necessidade de uma realidade
paralela, de um universo duplo no qual extravasar as nossas necessidades. Temos
nostalgia do passado mesmo daquele que não vivemos. Queremos ter a vida
perfeita mas esquecemo-nos que a perfeição não existe. A nossa infância
continua latente porque a essência de uma pessoa não se altera, ela pertence a
si própria na finitude de tempo que tem o seu eco na eternidade. Vida e morte
cruzam-se e o desespero existencialista de ainda não ter feito o suficiente
faz-se sentir.
Amor vincit omnia. O amor vence tudo
disse Vírgilio. No entanto vivemos num mundo em que ressoa o ódio, a violência,
a mais pura forma de raiva, de degeneração e transtornos vários. Quando pode a
flor delicada da compaixão brotar num ambiente tão árido e ermo? Como podemos
amar se tudo nos empurra na direcção contrária? Quanto mais poderemos aguentar?
A nostalgia deve impelir à acção, se temos memórias belas e idílicas devemos
fazer por replicá-las no presente. Se sentimos podemos criar. Não podemos
baixar os braços e furtarmo-nos às nossas responsabilidades porque a iniquidade
surge perante quem nada faz perante ela. Transformar o mundo é ergue-lo à
medida do nosso coração e fazer o bem um por um. Só assim podermos
verdadeiramente progredir.
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