A religiosidade cósmica
Albert Einstein, indiscutivelmente o mais
famoso físico de todos os tempos, afirma que todos podemos atingir a religião
em último grau, mesmo que nos pareça por vezes inacessível. A religiosidade
cósmica opunha-se à ideia teológica de um Deus antropomórfica e encontrava eco
em salmos de David, em crenças do budismo como o de causa e efeito e o
pensamento de que os Cosmos se nos revela segundo leis científicas que ao serem
obtidas, se tornam uma prova da existência de uma entidade superior que não
funciona ao acaso. Alemão de origem judia, Einstein (1879-1955) dizia acreditar
no Deus do filósofo holandês Espinoza, num ser que não joga a dados com o
Universo mas se mostra na pureza, no súbtil e nos detalhes mais meticulosos
para envolver tudo o que existe no seu abraço e falar numa voz do mundo sobre
os problemas que os assolam e as esperanças e sonhos que nele se depositam.
Numa dimensão em que o infinito ocupa toda a centralidade e lugar, fora dos
costrangimentos do tempo e espaço, o caos é, como bem escrevia José Saramago,
uma ordem que compete a nós decifrar diariamente.
Não há uma distinção cosmológica entre
o saber da ciência e o da teologia, ambos explicam verdades e tocam no que é
fundamental nos homens. A religiosidade cósmica não tem regras fixas, dogmas
estáticos e arcaicos, renova-se com a natureza e à luz da própria evolução da
matéria e dos espécies vivas. Alimenta concepções históricas, morais e
sobretudo do sentir que se reveste de uma nova importância: a de observar por
si mesmo em vez de seguir, como mais uma ovelha no rebanho o que os outros nos
querem fazer ver. Não há uma verdade única, absoluta e plural, há sim premissas
pessoais e singulares que orientam em directrizes firmes a pessoa que tem pode
seguir o caminho de obedecer à sua voz interior ou de tentar obstinadamente perseguir
uma razão cujos mecanismos de base ainda não conhece. As fronteiras entre o que
é divino e o profano por vezes esbatem-se e são ténues e todos os exemplos dos
que viveram antes de nós nos ensinam uma lição sobre o que devemos evitar ou o
que é fazer o bem.
Einstein defendia que todos os
acontecimentos no mundo físico eram consequências de outros que poderiam ser
descritos miniciosamente por leis científicas. Na ordem que regia o Cosmos não
se impunha como entidade soberana máxima o Deus das grandes religiões
monoteísticas. Os cientistas são motivados pelo desejo insaciável de aprender
um pouco mais sobre os mistérios do Universo e é essa a força motriz que os
impulsiona a investigar, a querer fazer mais e a continuar determinados e
entusiasmados mesmo após uma sucessão de tentativas goradas. “Os cientistas
sérios são os únicos homens profundamente religiosos” defendia Einstein.
Alguns cientistas mostram-se
categoricamente contra a existência de Deus. O biólogo britânico Richard Dawks
argumenta que a teoria de Darwin da evolução explica toda a origem da
vida e fala de uma psicologia evolutiva em que a presença de uma entidade
divina não é sentida. Complexa ou improvável até, a vida na Terra surgiu
através de um processo moroso e depois de muitos anos (10 biliões de anos) do
fenómeno evolutivo, o Homem decide explicar a sua existência a partir de um
Deus todo poderoso seu criador e 4 biliões de anos depois começa a adorá-lo e a
prestar-lhe culto.
Porém, há quem acredite que não
existem paradoxos entre a existência de Deus e o evolucionismo e que os
milagres religiosos podem ser comprovados cientificamente e que Deus terá
criado as formas de vida mais elementares até órgãos mais complexos como é o
caso do cérebro humano.
Francis Collins, médico e geneticista
norte-americano que já foi coordenador do Projecto Genoma afirma
Francis Collins. Este cientista, que mapeou o ADN humano, acredita
que Deus não pertence ao mundo natural, está fora dele e teria activiado o
mecanismo de evolução e das espécies no momento da Criação. Para ele, Deus não
pertence ao mundo natural mas transcendeu-o. “O Deus da Bíblia é o mesmo do
genoma. Pode ser adorado tanto numa catedral quando num laboratório.”
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