Benevolência
Debaixo do mesmo céu estrelado
Das mesmos satélites e planetas
Não ouves o som do passado
Nem os suspiros de mil poetas
Não vês a chuva cair infatigável
Impiediosa sob as pedras da calçada
Ignoras o meu silêncio insuperável
Triste como louça despedaçada
Como um artefacto outrora imaculado
Que habita no pó escuro do esquecimento
Ficaste com o meu sonho alado
Deixaste-me só o desconsolo do tempo
De que valem os minutos e segundos
Se em cada um deles há uma presença ausente?
Em mim construíste canais e portos seguros
De um sabor que entorpece de tão quente
E no entanto tenho de te deixar partir
Sacudir-me e seguir obstinadamente
Encontrar maneiras subtis de resistir
Até me render ao sono benevolente
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