Baladas emocionantes
Num artigo publicado este mês pelo Wall Street Journal da autoria de Michaellen Doucleff são analisadas as razões pelos quais certas canções, geralmente baladas, conseguem emocionar as pessoas, às vezes até às lágrimas.
É usado como exemplo o imenso sucesso da cantora britânica Adele. Em 2008 lançou o primeiro álbum “19” que contava com grandes canções como “Chasing pavements”, “Cold shoulder”, “Crazy for you” e “Hometown town glory” mas passou relativamente despercebido a nível mundial. É com o segundo registo, “21”, editado em 2011, graças a melodias poderosas e fortemente emotivas que atinge um estatuto icónico no panorama musical. O tema transversal ao último trabalho, um amor fracassado, rendeu à artista milhões de cópias vendidas e singles multipremiados como “Rolling in the deep”, “Someone like you”, “Set fire to the rain” e “Turning tables.”
Foram identificadas estruturas na música de Adele que agradam ao ouvinte e dão ao cérebro humano uma experiência auditiva compensadora: letras sentidas, uma voz poderosa, emoções fortes baseadas em experiências pessoais.
Usa-se como caso ilustrativo um estudo efectuado há duas décadas, no qual o psicólogo britânico John Sloboda conduziu uma experiência para identificar passagens de canções que provocavam reacções físicas fortes (lágrimas ou arrepios) nos ouvintes. A maior parte das secções musicais identificadas continha um arranjo musical chamado de “appogiatura”, um tipo de nota ornamental dissonante com a melodia que gera tensão. Assim, quando a música regressa à melodia inicial, um sentimento de reforço positivo e bem-estar invade o ouvinte.
Se vários momentos de resolução existirem numa canção o ciclo de opressão e libertação provoca reacções mais exacerbadas e eventualmente, o choro.
Há alguns anos Dr. Guhn e o colega Marcel Zentner estudaram excertos musicais de músicos consagrados como Mendelssohn, Barber e Mozart Foram medidas as reacções fisiológicas dos ouvintes (suor, batimento cardíaco, arrepios) ao escutar as obras. As melodias que mais emocionaram tinham quatro traços em comum: começavam suavemente e subiam num crescendo repentino, continham uma entrada abrupta de uma nova voz, instrumento ou harmonia e, por último, possuíam uma expansão acentuada das frequências tocadas. Concluiu-se que os desvios inesperados na melodia e harmonia são os que mais arrepiam a assim como as alterações no volume, timbre e padrão da harmonia.
Na canção “Someone like you” há várias notas semelhantes a appogiaturas, com a cantora a modificar um pouco a colocação vocal no final das notas longas antes do acompanhamento entrar numa nova harmonia. Tudo isto cria uma verdadeira montanhas russa de emoções no ouvinte.
A canção começa de forma suave e repetitiva, com uma interpretação contido. No refrão a voz sobe uma oitava e a música torna-se cada vez mais dramática. Quando a música rompe o padrão familiar, o sistema nervoso simpático do ouvinte entra em alerta máximo e o coração acelera, provocando um estímulo que o organismo pode classificar de agradável ou incomodativo.
Músicas emocionalmente intensas libertam dopamina nos centros de prazer e recompensa do cérebro, semelhante aos efeitos de comida, sexo ou drogas; levam a que o individuo se sinta bem e repita o comportamento. Quanto mais reacções uma música nos provoca, quer sejam de alegria ou tristeza, mais desejamos voltar a ouvi-la para sentir de novo essa libertação de químicos.
Vencedora de seis Grammy’s, Adele parece inadvertidamente ter nas suas músicas a fórmula perfeita de sucesso comercial combinada com uma característica fundamental: um tema com que a maior parte das pessoas se pode identificar: terminar uma relação, perder aquele que amamos e desejar, mesmo assim, que este tenha um vida feliz e possamos encontrar alguém parecido. Com honestidade e coração aberto, Adele transformou a catarse artística numa escada para o triunfo.
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