Fotos marcantes do século XX

Marcado por profundas transformações políticas, sociais e culturais, o século XX reveste-se de uma intensidade complexa por todas inovações tecnológicas, progressos civilizacionais no meio dos conflitos mais mortíferos  da história (o levou a ser apelidado de "Século sangrento". Esta época de extremos e turbulências, foi registada pelas lentes dos melhores fotógrafos do mundo, em vários períodos determinantes da história contemporânea.


Uma das fotos mais notáveis de sempre foi tirada por Steve McCurry, a uma criança de apenas 12 anos, em Junho de 1984. Sharbat Gula tinha perdido os pais no bombardeio soviético do Afeganistão e encontrava-se no acampamento de refugiados Nasir Bagh do Paquistão. A sua foto estampou a capa da National Geographic e correu a mundo, com os seus impressionantes olhos verdes, chamando a atenção para a situação dramática dos afegãos e dos refugiados em todo o mundo.
Procurada durante anos pelo homem que a fotografou, Sharbat foi encontrada em 2002. Vivia numa aldeia do Afeganistão (país a que regressou em 1992), casada e mãe de três filhos (teve mais uma filha que morreu em bebé).A identidade foi confirmada pelos padrões biométricos da íris. Esta tinha sido a única foto que Sharbat havia tirado em toda a sua vida, recordava-se perfeitamente desse momento mas não fazia ideia do impacto que o seu rosto tinha feito no resto do mundo.
Foi capa mais uma vez da edição da National Geographic e tema de um documentário especial. Adicionalmente, foi criado um fundo de caridade para beneficiar as mulheres afegãs, cujas lutas e sofrimentos Sharbat Gula espelhou na perfeição.


A 8 de Junho de 1972, um avião do Vietname do Sul bombardeou a população de Trang Bang com napalm (conjunto de líquidos inflamável), aldeia ocupada na altura  pelo Vietname do Norte.
 Kim Phuc, uma menina de nove anos e a sua familia fugiam do ataque quando as roupas da criança foram consumidas pelas chamas. O momento foi captado pelo fotógrafo Nick Ut, que levou de seguida a criança ao Hospital. Kim esteve internada durante mais de um ano e teve 17 enxertos de pele. Actualmente, reside no Canadá, é casada, tem dois filhos. Dedica-se a presidir a fundação Kim Phuc, que ajuda crianças vítimas da guerra e às actividades como embaixadora da UNESCO.
A fotografia da menina do Vietname venceu o Prémio Pulitzer e mostrou à comunidade internacional todo o desespero e horror da guerra.


O beijo da Times Square é considerada uma das fotos mais icónicas do final da Segunda Guerra Mundial e do triunfante regresso a casa das forças combatentes norte-americanas. Na imagem, captada pela objectiva de Alfred Einsenstaedt, um soldado da marinha norte-americana beija uma enfermeira celebrando a despedida à guerra e vitória sobre o Japão. A fotografia, tirada a 14 de Agosto de 1945 é um símbolo da euforia de uma nação e do arrebatamento da juventude.


Uma das fotografias mais impressionantes do século XX denominada “Protesto silencioso” mostra-nos o monge budista vietnamita Tich Qang Duc, a sacrificar-se através de auto-imolação numa rua movimentada de Saigão, a 11 de Junho de 1963. Esta foi a maneira encontrada pelo monge para protestar contra a pressão e perseguição religiosa que os budistas sofriam no Vietname do Sul. Testemunhas afirmam que enquanto o seu corpo era devorado pelas chamas, o monge se manteve completamente imóvel e sem emitir qualquer som. Para além disso, coração não ardeu, o que suscitou grande veneração. Os restos de Tich Qang Duc foram cremados segundo um ritual budista e transladados pelo Banco de Reserva do Vietname como uma relíquia.
O fotógrafo Malcom Browne foi galardoado com o prémio Pulitzer e Foto do Ano da World Press Photo de 1963 por este trabalho. O jornalista David Harbenstein que presenciou e escreveu sobre o acontecimento foi também galardoado com um Pulitzer.


Em Março de 1993, uma foto saiu pela primeira vez no The York Times e provocou uma onda de comoção um pouco por todo o mundo. Na cena captada pelo fotógrafo sul africano Kevin Carter na pequena aldeia sudanesa de Ayod, vemos o  corpo debilitado de uma criança desnutrida, que procurava chegar a um campo de alimentação da ONU. Um abutre que se apresenta em segundo plano, parece aguardar a sua morte.
O jornal recebeu tantas cartas a quererem saber o que tinha acontecido à criança que teve de lançar uma nota a dizer não ter conhecimento do seu destino. A opinião pública dividia-se entre a aclamação pelo brilhantismo profissional de Kevin Carter e a crítica severa ao tempo gasto a tirar a foto e não a ajudar o ser humano em causa. Chegou a ser chamado de “predador”, numa comparação directa ao abutre na cena.
Fotógrafos presentes na cena defenderam Kevin Carter. João Silva, colega de profissão, afirmou que Kevin afastou o abutre depois de tirar a fotografia e que a criança estava à espera dos pais, que iam buscar comida distribuída pela ONU. Dois fotografos espanhois referem que é falsa a crença de que o abutre estava ali pelo cadáver em potencial, visto que havia um centro de distribução alimentar, com restos potencialmente aliciantes para o pássaro.
Kevin Carter nasceu a 13 de Setembro de 1960, em Joasnesburgo (África do Sul). Decide tornar-se fotojornalista após testemunhar o bombardeamento de uma igreja em Pretória em 1983. Desde os seus primeiros trabalhos na área que se dedicou a denunciar as injustiças e crimes brutais do regime do apartheid.  Juntamente com Greg Marinovich, Len Oosterbroek e o português João Silva formava era parte de um conjunto de fotógrafos chamados de “Bang Bang Club”, profissionais que retratavam os conflitos, atrocidades, disputas e execuções na África do Sul de 1990 a 1994.
A miséria e o horror das acções humanas estavam no foco da sua lente, muitas vezes dividindo-se entre o dilema de testemunhar ou oferecer ajuda. Carter procurava manter o sangue frio para fazer o seu trabalho o melhor que sabia e lidava com as consequências psicológicas deste depois. Um dos meios de escape às exigências extremas e à realidade crua e desoladora que fotografava era o consumo de drogas.
Catapultado para um mediatismo imediato, Kevin Carter começou a ser atormentado pela pressão e as consequências do sucesso, o medo de não estar à altura de novos desafios e a lucidez trazida pelas situações limite que presenciara. Cerca de um ano depois de ter fotografado a criança sudanesa, é galardoado com o Prémio Pulitzer.
Contratado então pela prestigiada agência Sygma, Karter falha dois trabalhos, o que abala profundamente. A morte do melhor amigo e colega de profissão, Ken Oosterbroek, em Abril de 1994 num tiroteio em Joanesburgo, terá agravado a depressão profunda em que se encontrava. Ken tinha uma vida familiar bem estruturada, ao contrário de Kevin, pautado por se mover no caos, pela instabilidade amorosa, pai de uma menina não planeada chamada Megan. Sobre a fotografia célebre do pai, Megan diria mais tarde “Eu vejo a criança em sofrimento com o meu pai e o resto do mundo é o abutre”,
Em 27 de Julho de 1994, pelos horrores da guerra, problemas pessoais e dificuldades financeiras, Kevin Carter suicida-se. Levou o carro até à beira de um rio nos arredores de Joasnesburgo, local onde costumava brincar em criança. Liga então uma mangueira do jardim ao tubo de escape e fecha-se dentro do carro, morrendo por inalação de monóxido de carbono. Tinha apenas 33 anos de idade.
No bilhete suicida Kevin afirma “Sou assombrado pelas vividas memórias de mortes e cadáveres, raiva e dor, de crianças feridas e esfomeadas, de loucos que assassinam alegremente, alguns deles polícias. A dor de viver ultrapassa a alegria ao ponto em que esta deixa de existir. Vou partir para me juntar ao Ken, se eu tiver essa sorte”.
A vida e trabalho de Kevin Carter são retratados no documentário “The death of Kevin Carter: Casualty of The Bang Bang Club”, nomeado para um Óscar e no filme “The Bang Bang Club”, lançado em 2010.

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