O Gueto de Varsóvia
O Gueto de Varsóvia foi o maior segregação judaica construído pela Alemanha hitelariana na Polónia, durante a Segunda Guerra Mundial. O muro do Gueto começou a ser feito em Agosto de 1940, por ordem das forças nazis alemãs, que tinham ocupado a Polónia em 1939. Foi finalizado a 16 de Novembro e serviu para o isolamento da população judaica, que foram obrigados a habitar circunscritos a essa área.
O gueto vigorou durante três anos e nele proliferava a fome (as rações eram muito diminutas), doenças (como o tifo) e era a partir daí que se fazia a deportação para os campos de concentração. A população foi dizimada de 380 000 (30% dos habitantes de Varsóvia) para 70 000, começando a 22 de Julho de 1942. A maioria dos judeus foi levado para as câmaras de gás no campo de concentração de Treblinka. Os que conseguiram permanecer no gueto trabalhavam como escravos para fábricas alemãs ou eram fugitivos.
Movimentos juvenis e instituições de caridade dar alguma ajuda aos habitantes ao fornecer alimentação e aulas escolares clandestinas. A Judenrat (um dos mais importantes corpos administrativos do judeu do gueto) operava também em hospitais e orfanatos (estes acabaram por ser evacuados com todos os seus ocupados assassinados em Tremblinka).
A nível cultural, no gueto de Varsóvia circulava uma imprensa diária em três línguas iídiche, polaco e hebreu. Realizava-se culto religioso, concertos de música clássica, teatro e exposições de arte, assegurados, frequentemente, por figuras conceituadas da Polónia.
Organizações políticas emergiram para oferecer resistência às tropas alemãs criando-se a ZOB (Organização de Luta Judaica). Eram um grupo armado com uma estrutura bem definida que fazia uso de pistolas, bombas caseiras e coqueteis molotov (arma química incendiária de origem russa), fornecidos pelos resistentes polacos fora do gueto.Com a segunda onda de transportes para campos de concentração, os habitantes decidiram lutar até à morte, se necessário. Armaram-se como podiam, escavam túneis por baixo de casa pela rede de esgotos e abastecimento de água até às zonas mais seguras da cidade. Relatórios das forças nazis referem “retirados à força dos covis” relativamente aos habitantes do gueto. Unidades polacas fora do gueto apoiavam por vezes as forças judias em ataques e por duas vezes se tentou explodir a muralha do gueto. Suicídios dos judeus polacos tornam-se uma constante, pessoas a quem a passividade do mundo face ao seu massacre, levaram ao limiar do desespero.
A revolta do gueto de Varsóvia, em Maio de 1943 foi a primeira insurreição de grande envergadura contra o nazismo que se alastrava na Europa. As lutas iniciaram-se na noite da Páscoa judaica a 19 de Abril de 1943 com judeus a disparar granadas para militares alemães a partir de esgotos, becos e janelas. Os judeus conseguiram controlar temporariamente o gueto e parar os transportes para os locais de extermínio durante 4 dias mas a revolta acabou por ser esmagada pelos alemães, que começaram a explodir casas e a matar todos os judeus com que se deparavam. Os eventos fatídicos ficaram conhecidos por "Levante do gueto de Varsóvia".
A resistência judia decaiu nos meses seguintes e o gueto tornou-se o local onde prisioneiros e reféns eram executados. Chegou mesmo a criar-se ali um campo de concentração denominado KL Warschau.
Os combates nesta zona inspiraram a revolta de Varsóvia em 1944, para libertar a cidade do domínio alemão. Hitler ordenou então a destruição do gueto, ficando o antigo bairro de judeus da Varsóvia completamente em ruínas.
Em 2012, comemoram-se 69 anos da revolta anti-nazi, com o memorial aos heróis do Gueto de Varsóvia a ser um dos locais de visita obrigatória.
Dois dos presos mais notáveis do gueto de Varsóvia foram Wladyslam Szpilman (autor do livro “O Pianista”, a partir do qual se realizou o pungente filme com o mesmo nome de Roman Polanski) e Marcel Reich-Ranicki, o crítico literário alemão mais famoso da actualidade, que denunciou as humilhações e abusos cometidos pelo exército alemão contra os judeus: cortavam-lhe as barbas (algo muito prezado na tradição judaica) faziam-nos cantar, dançar, ajoelhar-se ou matavam judeus aleatoriamente, sem nunca serem repreendidos por isso.
Foi feita uma recolha de documentos clandestina para retratar a vida no gueto através de fotografias, diários, desenhos, trabalhos, bilhetes, receitas e notas de quem nele tinha vivido. Uma parte deste património histórico chegou intacta aos nossos dias e mostra as complexidades culturais e sócio-económicas de uma população em sofrimento.
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