As lições da chuva


Nem sempre os meses do ano são feitos de céus limpos, de sorrisos fáceis em que se levanta da cama a agradecer o simples facto de estar vivo e não a amaldiçoar o dia difícil que se tem pela frente. Por qualquer razão, nem sempre se pode avançar delicadamente, quase que a deslizar pelas rotinas e tarefas diárias, com a luz do sol a reflectir-se em nós. 
Há dias em que a energia nos abandona e progredimos sofrivelmente, a arrastar os pés, a não querer dar nem fazer mais nada. Os esforços parecem inglórios, não há mais nada para além dessa sensação miserável de torpor e peso quase insuportável. Como se tudo que existe se fosse feito para ser destruído, como se nenhumas palavras pudessem traduzir, por um milésimo do segundo o que pensamos, como se nada fosse digno de ser olhado, de ser respirado.
É confortável viver na sombra e nas crenças negativas, porque se não nos movemos também não teremos nada a perder, certo? Não acreditar é, em si mesmo perder, porque não se aceita ver para além do guião da nossa autoria nem sair dessa caixa lúgubre que nos resignámos habitar. É preciso rasgar regras que já não fazem sentido, deixar entrar a luz para que os pontos de ruptura se renovam e dê origem a um novo ciclo: de mais partilha, aprendizagem e sentimentos felizes.
Todos somos estrelas que precisam de descer um pouco para ter noção do brilho e poder que emanam do espaço, do tempo, daquilo a que chamam de vida. Somos o horizonte mais fascinante e enigmático, satélites distantes que ainda não foram descobertos, gotas de água que se regulam uma pelas outras e se prendem para formar marés fortes e inabaláveis.
Quando a chuva passa só então nos apercebemos que estivemos sempre submersos numa beleza obscurecida pela inquietude escondeu por detrás de cada lágrima se escondeu um novo por de sol.



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