Uma questão de temperamento
Temperamento designa as principais vertentes ligadas à personalidade ligadas ao comportamento individual: afectividade, actividade e atenção. Este é um conceito complexo e difícil de definir, que se penda estar relacionado com as tendências mais frequentes com que a pessoa gere emoções e determinadas situações, criando estados de espírito e padrões de pensamento recorrentes. Estes traços individuais existem deste o nascimento, são influenciados hereditariamente e costumam revelar-se duradouros a longo prazo. Na linguagem laica, temperamento pode ser usado como sinónimo de carácter ou índole, o que torna o seu entendimento mais lato e pouco claro.
Segundo Hipócrates, ilustre filósofo grego e considerado o pai da Medicina moderna, o conceito de temperamento estava intrinsecamente ligado à teoria dos quatro elementos de Empédocles, consoante os fluidos corporais dominantes. Havia assim os temperamentos sanguíneo (sangue), fleumático (linfa ou fleuma), colérico (bílis) e melancólico (astralibis ou bílis negra), cada um com características próprias.
As pessoas de temperamento sanguíneo eram optimistas, expansivas, impulsivas e facilmente irritáveis. O temperamento fleumático era descrito como sendo pacífico, dócil, sonhador de hábitos fixos e pouco ligado às paixões. Os indivíduos coléricos revelavam-se explosivos, ambiciosos, dominadores e de reacções bruscas. O temperamento melancólico era associado ao pessimismo, solidão, nervosismo, perturbação e rancor.
Durante a idade medieval, o filósofo e médico Galeno deu relevo a esta teoria de Hipócrates, que viria a exercer uma influência decisiva no pensamento ocidental.
O intelectual alemão Wundt, definiu duas componentes do temperamento: intensidade dos movimentos internos (emoções) e velocidade da variação dos movimentos internos. Hans Eysenck desenvolve estes princípios ao organizar uma análise factorial através de questionários de personalidade. Em foco estava a intensidade das emoções sentidas por cada individuo, reflectidas nas classificações de Jung: introversão e extroversão. Assim, as pessoas introvertidas eram definidas como fechadas e voltadas para si mesmas e as extrovertidas como abertas e direccionadas ao contacto com o exterior.
De acordo com Eseynch a extroversão favorece comportamentos de sociabilidade e amistosidade, bem como uma atitude mais positiva perante a vida em geral. Pelo contrário, altos níveis de introversão iriam propiciar ao neuroticismo: pessoas de humor instável, muito variável e emoções desgovernadas. Esta teoria de personalidade está ainda ligada à fisiologia (ao funcionamento do cérebro e do sistema límbico) e à intervenção de certos mecanismos corporais na formação do temperamento.
Gracy amplia a teoria de Esyenck defendendo que o ser humano pode ter três tipo de comportamento a nível emotivo: sistema de activação comportamental (as reacções a estímulos são relacionadas com um reforço, positivo ou negativo, que se concretiza com o comportamento), sistema de inibição comportamental (as reacções aos estímulos estão relacionadas com uma punição, positiva ou negativa que conduzem à inibição do comportamento) e, por último, sistema de luta-fuga (as reacções aos estímulos incondicionados são baseados no perigo, levando a um ataque defensivo ou fuga.
O psicólogo Gray identificiou dois conceitos-base: inibição e activamento, a que correspondiam as vertentes ansiedade e impulsividade. Pessoas com inibição intensa apresentavam uma grande sensibilidade face a mudanças e punições e elevados níveis de neuroticismo e introversão. Pessoas com grande activamento gravitavam em torno dos reforços, positivos ou negativos, provenientes das suas acções. Apresentavam baixos níveis de neuroticismo e grande extroversão.
Gray baseou a sua teoria em conhecimentos neurofisiológicos mas não procurou um fundamento anatómico para esta, preferindo antes levantar hipóteses e questionar os modelos existentes.
O temperamento é uma área de pesquisa constante e com ainda muitas respostas por encontrar.
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