O Mito de Sísifo
O mito de Sísifo remonta à Antiguidade Grega e ao berço da mitologia clássica. Sísifo era filho do rei Éolo e Enarete e foi o primeiro rei e fundador de Corinto. Era considerado um mortal cheio de astúcia, malícia e artimanhas, acabando frequentemente por insultar, com o seu comportamento, os deuses do Olimpo. A sua vida foi pautada por peripécias, sendo que por duas vezes enganou a Morte. Chegou mesmo a conseguir escapar do Tártaro (semelhante ao Inferno dos cristãos, onde estão as almas iníquas) e regressado ao mundo dos vivos.
Morreu de idade avançada e na chegada ao Tártaro a sua dissidência foi punida com severidade. Sísifo foi condenado a rolar até ao cume de uma montanha uma enorme pedra feita de mármore e de cada vez que estava quase a chegar ao topo, a pedra rolava novamente para trás movida por forças insondáveis e ele tinha de fazer tudo de novo, para toda a eternidade. A perosnagem era assim obrigada a executar um trabalho monótono e exaustivo, um castigo para que nunca se esquecesse que os mortais não eram livres como os deuses. Este mito é muitas vezes abordado para designar todos os esforços que parecem inúteis, aplicando-se frequentemente a situações como dietas falhadas, trabalhos que tiveram de ser reformulados de raíz, entre outras. Esta figura mitológica acabou sendo indossiável de esforços inglórios, trabalhos intermináveis e a um profundo sentimento de frustração.
Todavia, pode-se tirar um ensinamento com uma conclusão mais positiva do mito de Sísifo: através do seu trabalho, a personagem mitológica dignifica a sua vida, está activo e faz algo com o seu tempo; não fica parado no mundo. Apesar de nunca conseguir levar a sua pesada pedra ao topo da montanha, podemos considerar que interiormente Sísifo não volta ao ponto de partida, isto é, que cada vez que ele tem de começar de zero o seu empreendimento mal sucedido, ele é uma pessoa diferente. Ao mover-se, ele cresce, amadurece e mesmo que nunca possa vencer no seu interior torna-se rico em derrotas, fica mais humilde. Mais cedo ou mais tarde descobrimos que nem sempre é preciso ser-se considerado vencedor pela sociedade para nos sentirmos como tais. Acabamos por ter sempre liberdade de escola, apesar de muitas vezes só a podemos exercer ao lidar com tarefas e fardos que assumimos em vez de renunciar.Vivemos ocupados com a rotina e a repetição mas podemos encontrar algum tipo de criatividade dos nossos afazeres, um folêgo que seja de liberdade.
O mítio de Sísifio acaba por ser uma cristalização da condição humana já que a nossa derradeira vitória, sobre a morte, não é possível e a imortalidade continua a ser apenas um sonho. Morrer pode ser interpretado como um estado por defeito, já que quanto mais vivemos menos tempo nos resta para viver. A existência consome-se como uma fogueira e pode ser vista simultaneamente como a essência do Ser e uma falha inerente a ele. Viver é uma luta por atingir plenitude mas ao mesmo tempo espelha as nossas limitações flagrantes.
Ao falhar mais, novamente e melhor, repetindo erros que não há possibilidade de corrigir, mantemos no horizonte a esperança de que a nossa dedicação, trabalho árduo e disciplina nos tragam alguma forma, mesmo que ténue, de redenção.
Ao falhar mais, novamente e melhor, repetindo erros que não há possibilidade de corrigir, mantemos no horizonte a esperança de que a nossa dedicação, trabalho árduo e disciplina nos tragam alguma forma, mesmo que ténue, de redenção.
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