O significado da liberdade
Nem todos sabem explicar o que é ser livre mas todos já o sentiram, num momento ou noutro. Mais do que ausência de constrangimentos e de coersão exterior, a liberdade é um estado de espírito que nasce dentro da nossa cabeça e se torna real a partir dela, porque acabamos por ser uma soma do que pensamos. E, sobretudo da forma como o fazemos. Nascemos actualmente numa época em que a escravatura já não existe e proclamam que todos os seres humanos são iguais e dignos perante a lei mas infelizmente este príncipio fundamental não é aplicado em toda a parte. Há intolerância em situações em que deveria haver paz e concordância e outras em que se tolera a injustiça, acabando por se pactuar com as deficiências de um sistema que não protege a todos e parece muitas vezes obedecer a uma ordem aleatória e não fixa.
Quando se fala em liberdade surgem-nos conceitos, naturalmente a ela entrelaçados: responsabilidade, autonomia, espontaneidade, vontade e comportamente. Nenhum ser humano pode ser absolutamente livre numa sociedade em que existem regras e leis, com a punição para quem não as cumpre. É sobejamente dito que a nossa liberdade individual acaba onde começa a do outro, ou seja, há limites dentro aquilo que nos é permitido fazer. Vivemos assim numa liberdade condicionada, que muitos se perguntam se existe realmente ou é apenas um engano, uma ilusão em que querem fazer-nos acreditar, como um consolo aparente sem qualquer fundamento de verdade.
Vários filósofos se ocuparam deste assunto e é sempre muito elucidativo conhecer diferentes entenderes sobre o mesmo assunto. Spinoza entendia a liberdade como a realização plena do ser humano, em que este expressa quem é e as suas vontades, na totalidade. Kant pensava que ser livre era ter autonomia, regrar-se a si próprio e age fazendo uso do seu livre arbitrío, sempre com consciência dos seus actos. O filósofo alemão Schopenhaeur considerava que o comportamento humano era determinado pela esfera metafísica, que o indívíduo não fazia aquilo que queria, de acordo com os seus desejos, mas aquilo, que consoante a sua condição se via obrigado a concretizar. As suas deliberações dependiam sempre de factores exteriores a ele, fora do seu alcance. O ilustre pensador francês Jean Paul Satre considerava que a liberdade só podia ser absoluta ou então não existia. Era a condição natural do Homem ser livre, ter de tomar decisões e fazer escolhas e era nessa liberdade e nas várias possibilidades oferecidas por ela, que residia uma boa parte da sua angústia existencial.
Para cada um de nós a liberdade pode ter várias acepções e sentidos. Pode ser correr ao ar livre sem rumo certo, terminar um relacionamento sufocante ou então, muito simplesmente, não ter de trabalhar ou de, no caso dos estudantes, de se aplicar para os exames. A liberdade pode ser o que quer que ela seja, desde que possibilite à alma voar a seu bel prazer e não viver aprisionada num lugar onde não deseja permanecer. Na liberdade cabem os nossos sonhos, as nossas esperanças, tudo o que acalentamos obter na vida. Está a coragem em oposição ao medo e o alívio vencendo a pressão.
Nas suas mãos, o ser humano encerra o seu destino e detem o poder de reinventar-se ou estagnar-se, criar ou destruir, florescer ou perecer. Possuímos forças antagónicas, que se atraem, repelem ou complementam dentro de nós e através do seu uso, do conhecimento da sua natureza que vamos construír a obra-de-arte que é a nossa e que vamos saber, ou melhor, sentir eventualmente o que a liberdade significa.
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