De volta da estratosfera
Após a eliminação de Portugal no Mundial 2010 com uma derrota de 1-0 frente à Espanha o cenário para um pessimismo geral, contra o qual temos de lutar, continua a adensar-se cada vez mais. Não vou tecer muitos comentários sobre a qualidade da jogo em si, até porque só vi a primeira parte do jogo, mas creio serem injustas certas críticas contra os jogadores, que com certeza, fizeram o melhor que puderam para conseguir vencer a partida, o que infelizmente não aconteceu. O capitão da equipa, Cristiano Ronaldo, quer pela sua prestação, quer pela atitude macambúzia a seguir ao jogo, é que o tem levado com mais impropérios e insultos. O facto é que o futebol é um desporto feito por uma equipa e não por individualidades que se podem destacar ou não e a pessoa que tem mais responsabilidades e um estatuto de maior realce que os outros é quem no final, se as coisas dão para torto, fica com as culpas em cima. Creio que não devemos sentir vergonha nem raiva por esta eliminação. Não foi inglório perder este Mundial assim como não foi inglório morrer na praia no Europeu 2004 e ficar barrado nas semi-finais do Mundial de 2006. Todas estas experiências servem para solidificar aquilo que a selecção é e ficam inscritas num percurso da equipa que continua a ser interessante e digno de registo, apesar de não alcançar os resultados de dimensão estratosférica com que os portugueses sonhavam.
A vida segue em frente, daqui a dois anos há outro Europeu e daqui a quatro, outro Mundial, o futebol tem esse condão de fazer parar o mundo por uns momentos e criar emoções que acabam por ser libertadoras, mas não resolve os problemas que nos preocupam durante o resto do tempo. É natural agora que os meios de comunicação social olhem de novo para os temas da actualidade: economia, sociedade, educação, conflitos e processos de paz, para tirar a cabeça dos sonhadores das nuvens.
O futebol é mais de que um espectáculo, é um desporto que mobiliza as massas, que as obriga a observar, a ter um espírito crítico e a manifestar sentimentos que podem ser salutares, caso não recorram a uma agressividade ou raiva desmedidas. O que uma competição como o Mundial faz é unir o país, como familiares desavindos que só se vêm uma vez por ano mas convivem harmoniosamente, antes de virarem costas e irem cada um para o seu lado. E a união fortifica e poderia ser muito produtiva se fosse melhor aproveitada.
Desde a sua criação em 1904 a FIFA percorreu um longo caminho, assim como desde os jogadores de futebol do passado que jogavam em condições rudimentais até aos actuais com contratos milionários e posters sorridentes afixados em tudo quanto é sítio. Assim como o futebol, nunca paramos de evoluir e de avaliar o que é realmente importante. Não sabemos como tudo irá acabar nem como sair das confusões em que nos vimos metidos mas questionar, questionar vezes e vezes sem conta a realidade talvez seja um bom primeiro passo para quem sabe um dia marcarmos golo.
Equipa britânica vencedora do primeiro Torneio Olímpico de Futebol (1908)
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