Como o abuso online de mulheres está fora de controlo
A actriz e activista norte-americana Ashley Judd deu no mês passado uma conferência no evento TED Talks intitulada "How online abuse of women has spiraled out of control", que se tornou rapidamente viral.
A actriz começa por partir da sua experiência pessoal, citando insultos e provocações que lhe dirigiram na Internet e afirma: "A misoginia é uma tragédia global dos direitos e é imperativo que acabe. As vozes de raparigas e mulheres e as vozes dos nossos aliados são constrangidas de maneiras que são pessoalmente, economicamente, profissionalmente e politicamente nefastas. Quando eliminarmos o abuso, vamos expandir a liberdade".
Um comentário indignado num jogo de basquetebol despoletou um discurso de ódio com ameaças de morte e de violação. Feminista convicta, Ashley afirma que o abuso que sofreu foi muito traumático e a fez duvidar de si mesma, uma vez que tinha internalizado o modelo patriarcal. Segundo ela, o patriarquismo, "não é rapazes e homens. É um sistema em que todos participam, incluindo eu".
Depois de receber o apoio do ex-marido que demonstrou preocupação, a actriz canalizou as suas emoções para a escrita "Comecei a escrever a partilhar o facto de que sou sobrevivente de todas as formas de abuso sexual, incluindo três violações", o que gerou ainda mais discurso de ódio e comentários inapropriados. Publicou então um ensaio sobre o tema que atraiu atenções "Prova que a misoginia online de todos os dias é um fenómeno suportado por todos, no mundo inteiro, e quando se intersecta é pior. Orientação sexual, género, identidade, raça, etnia, religião".
Ashley realça o papel do abuso traumatizante para a saúde mental e bem-estar emocional uma vez que a ameaça de violência é experimentada a nível neurobiológico como violência "O cortisol dispara, o sistema límbico é activado, perdemos produtividade no trabalho".
No trabalho há constrangimentos claros e na educação revela-se que 96% das imagens sexuais postadas são de raparigas e que a probabilidade dos rapazes de partilhar imagens de forma não consensual é três vezes maior.
Ashley Judd começou um site chamado Speech Project, para limitar o abuso, principalmente contra raparigas e mulheres e ampliar a liberdade. O site apresenta uma lista estandardizada de definições "porque é difícil atacar um comportamento da maneira certa se não estivermos todo a partilhar uma definição do que esse comportamento é".
A actriz contratou uma pessoa para analisar cuidadosamente os comentários que recebe "Tomamos todo esse discurso de ódio, desagregamo-lo e codificamo-lo e damos os dados para que compreendamos a intersecionalidade de tudo: quando eu recebo pornografia, quando é acerca da filiação política, quando é acerca da idade, quando é acerca de tudo isto. Vamos vencer esta luta".
Dentro das soluções apontadas para resolver este problema Ashley Judd aponta: literacia dos media digitais com uma lente de género para crianças, escolas, pais, etc; ter mulheres na massa crítica de companhias tecnologias construindo-as de raíz para mudar pioridades e descobrir soluções (o padrão global de igualdade de género é o padrão mínimo) e acabar com a misoginia nos jogos de video, por exemplo. De igual modo importa educar as forças policiais sobre a tecnologia da Internet a nível de dispositivos e plataformas uma vez que a violência online é uma extensão da violência em pessoa "No nosso país, mais raparigas e mulheres foram assassinadas pelos seus parceiros íntimos do que as que morreram no 11 de Setembro e morreram no Afeganistão e Iraque juntas" afirma Judd. Para além disso, ressalta que se deve passar legislação astuta que reflicta a tecnologia actual e as noções de discurso livre e de ódio; os homens brancos devem desempenhar o seu papel e fazer algo para contribuir para esta causa e devem criar-se linhas de apoio e grupos de ajuda para que as vítimas se possam auxiliar a recompor as suas vidas e finanças.
"Devemos enquanto indivíduos terminar a violência de género enquanto está a acontecer". Este é fundamentalmente um problema de interacção humana. E como eu acredito que a interacção humana está no cerne da nossa cura, trauma não transformado será trauma transferido" declarou a actriz.
Ashley Judd cita Edith Wharton que afirmou "O fim está latente no início" e pede que se pratique a gratidão diariamente e afirmações positivas para vencer o conteúdo negativo dos abusos online e que se substitua o discurso de ódio com o discurso do amor.
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