O amor na depressão
Sabemos
que o amor não escolhe idades. Também sabemos que o amor nos pode fazer
esquecer da nossa própria idade. Uma nova paixão aos 27 anos pode fazer o nosso
coração bater tão aceleradamente e deixar-nos tão sem fôlego do que quando
tínhamos 17. Nada nos reconecta tanto com a nossa vitalidade, com o que há de
mais instintivo e orgânico em nós, com o nosso lado adolescente. Um amor
acontece das formas mais inesperadas. Podemos sentir-nos perfeitamente felizes
sem namorado e o amor chegar apenas para completar o que já temos ou pelo
contrário, podemos estar devastadas, a tentar reconstruir os pedaços e esse
acontecimento virar o nosso mundo do avesso.
A
depressão é uma doença séria, muito abordada e tida como o grande mal dos
tempos modernos. Nem sempre nos permite olhar para o exterior e ser capaz de
ter novas experiências, fazer novos conhecimentos e até amar. Mas o que
acontece quando conhecemos alguém que nos desperta a atenção e nos parece
libertar um pouco da miséria da nossa mente?
Uma
das grandes citações de auto-ajuda actual é que temos de nos amar a nós próprias
antes de sermos capazes de amar alguém. Contudo, uma pessoa deprimida pode ter
muitas qualidades entre as quais a empatia, sensibilidade e o facto de viver as
paixões intensamente, sem ser capaz de ter auto-estima e amor-próprio
suficientes. De modo inverso, entregar o coração pode parecer infinitamente
difícil a uma pessoa que atravessa uma depressão, quer seja por se ter magoado
antes em relações amorosas, quer por simplesmente estar demasiado frágil e
vulnerável nesta fase da vida. E quando não estamos bem é muito fácil encontrar
motivos para sofrer. Se o parceiro não liga à hora em que prometeu ou não
responde a uma mensagem de imediato, a pessoa fantasia de imediato que ele tem
outra pessoa, que não gosta dela, que só anda com ela por pena. É toda uma
miríade de emoções sem controlo que giram todas em torno da mesma realidade: a
depressão deturpa as nossa percepção da realidade, torna as águas turvas. Do
mesmo modo que é desaconselhável ver o mundo com óculos cor-de-rosa sob pena de
acabar desiludido quando as coisas não lhe correrem de feição, a depressão
torna o mundo negro, sem esperança e luz ao fim do túnel quando não tem de ser
assim. Quando não é assim.
Como
diz a canção “Ouvi dizer” dos Ornatos Violeta o amor é uma doença quando
julgamos ver nele a nossa cura. Em termos simples, ninguém nos pode salvar sem
que nos salvemos primeiro a nós próprios. Primeiro que tudo temos de nos
alicerçar em algo forte, que nos impulsione e levante para cima do nosso estado
de torpor, de sofrimento, de rendição perante a vida. Não podemos continuar
prostrados enquanto o mundo nos passa ao lado, temos em passos de bebé de nos
por de pé e fazer por voltar a apanhar o comboio. Tal pode passar por uma ida
ao psiquiatra que nos ajudará com medicação, uma consulta no psicólogo que
analisará as causas da nossa depressão e nos poderá propor uma terapia como a
cognitiva-comportamental que nos ajude a superar o nosso problema.
Se
está deprimida terá de ser paciente consigo própria. As melhorias neste tipo de
situação geralmente não acontecem da noite para o dia e exigem algum empenho e
esforço de auto-superação. Se está apaixonada, a decisão de continuar o
romance, pausá-lo para quando estiver melhor ou desistir dele por completo é
apenas sua. Mas com os devidos cuidados e um maior esclarecimento, o amor
verdadeiro é sempre uma ferramenta muito útil para curar estados depressivos,
para lhe devolver segurança e auto-estima e lhe devolver alguma fé na vida.
Não deixe que desilusões passadas perturbem a sua capacidade de dar de si e amar novamente, se nunca mais arriscar nunca saberá qual seria o resultado que daí adviria.
Por mais que lhe pareça impossível distinguir o sofrimento inevitável do opcional, se reorganizar as suas prioridades, focando-se naquilo que realmente importa, acabará por arranjar espaço para deixar entrar o amor na sua vida, colocando a depressão do lado de fora.
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