Catarina Furtado e os direitos das mulheres
Catarina Furtado completa 15 anos como
Embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA),
função que desempenha desde 1999. Desde sempre sensível às desigualdades
sociais e à necessidade de lutar pelos direitos humanos, Catarina Furtado faz
um balanço destes anos de trabalho ao serviço do UNFPA “Ter sido convidada pelo
então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan para esta missão, mudou a
minha vida porque lhe deu dimensão, profundidade e realidade. Sei que tenho
sido uma privilegiada (com uma educação voltada para o altruísmo, acesso a serviços
de educação e saúde, oportunidades de trabalho e uma relação directa entre o
esforço e a recompensa) e cada vez que mergulho nas desigualdades sociais,
sinto que temos obrigação de exercer os nossos deveres enquanto cidadãos do
mundo”.
Em 2005, Catarina começa uma série de
reportagens do programa “Príncipes do nada” em que relatam histórias de vida
passadas em países de expressão portuguesa (como Cabo Verde, Timor-Leste, Guiné
Bissau e Moçambique) com foco na saúde sexual e reprodutiva, na violência de
género, a maternidade adolescente ou o vírus da SIDA. Em 2012 Catarina Furtado
criou a associação Corações com Coroa, que visa pugnar pela igualdade de
oportunidades e de género, o combate à discriminação e violência, a saúde
materna, o planeamento familiar, o acesso à educação, entre outros “Queremos
promover uma cultura de solidariedade, de cidadania e de respeito pelos
direitos humanos de cada uma e de todas as pessoas” afirma.
A apresentadora de televisão, actriz e
humanitária partilha com a revista Máxima estatísticas que continuam a ser
bastante preocupantes. É necessário mais do que nunca investir na igualdade de
géneros. As mulheres são mais de metade da população e 70% delas estão numa
condição de desfavorecimento, 64% são iletradas, representam 21,9% dos cargos no Parlamento e apenas 8% dos
executivos do mundo dos negócios. Cerca de 39 000 raparigas são forçadas a
casar por dia.
É necessário investir na saúde
feminina sendo que em 2030, meio milhão de mulheres irão morrer de cancro
cervical e mais de 98% das mortes serão em países em desenvolvimento, 140
milhões de meninas e mulheres são submetidas a mutilação genital. A nível da
saúde materna e do recém-nascido há também muito a fazer: 800 mulheres morrem diariamente por
consequências de complicações durante a gravidez ou durante o parto e 3 milhões
de bebés morrem todos os anos. As disparidades na educação entre os sexos é
também gritante sendo que 31 milhões de raparigas que frequentam o ensino
primário não chegam a frequentar o terceiro ciclo.
É vital investir no planeamento
familiar e na saúde reprodutiva. A ausência de planeamento familiar leva a 80
milhões de gravidezes não planeadas, 30 milhões de nascimentos não planeados, 40
milhões de abortos por ano. São poupados seis dólares por cada dia gasto em
planeamento familiar.
Urge que 2015 seja um ano de
investimento na saúde materna e reprodutiva, de melhoria da dinâmica familiar fortalecimento
da economia, aumento da produtividade, redução da fome e criação de nações
sustentáveis. As mulheres investem 90% dos seus rendimentos na família,
melhoram o produto interno bruto em 3% ao ir à escola, são mais produtivas
quando conseguem derrubar as barreiras de acesso aos empregos. Reduzir
desigualdades na agricultura pode tirar 100 a 150 milhões de pessoas de uma
situação fome. Mulheres em cargos de topo têm uma maior consciência de
sustentabilidade planetária pelo que um aumento do poder feminino é benéfico
para todos.
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