O Jardim das Delícias Terrenas
Por volta do ano de 1504 foi concluído um trítico, da autoria de Hieronymius Bosch, pintor holandês que celebra com esta obra os prazeres provenientes da carne e dos sentidos. Estão retratados no quadro o paraíso terrestre, por um lado e o inferno, no extremo oposto. É contada a criação do mundo de acordo com o Génesis e a divisão entre Bem e Mal, com a noção de pecado, inerente ao catolicismo. Alguns interpretam esta peça como sendo utópica e fruto de uma projecção imaginativa, outros como uma expressão da vida humana, com a luxúria e erros subjacentes, envolta por uma atmosfera de transitoriadade, em que sentimentos agradáveis são frágeis e repletos de efemeridade.
Descrito inicialmente como "uma pintura sobre a variedade do mundo", o trítico é analisado de diferentes formas considerando as três partes de que é composto. A maior parte das pessoas vê este quadro como um acto de moralizar, satirizando os pecados humanos, a malícia e libertinagem, numa fusão de planos sucessivos, onde as várias cenas exprimem uma desordem quase claustrofóbica. Fundidos no mesmo horizonte de tons claros estão o paraíso e a terra, em contraste flagrante com um inferno soturno e carregando, de onde se capta apenas destruição e miséria. O pintor apresenta um domínio exímio das técnicas de perspectiva, chiaroescuro e filtração de luz. A paisagem é retratada de forma quase poética e visionária.
Acredita-se que Bosh tenha sido um homem muito culto, defensor de causas e de valores éticos, que pretendia com a sua arte alertar para as perigos de se cederem às tentações terrenas, às más condutas e desvios comportamentais. Religião, sexo e pecado eram grandes preocupações do pintor, para o qual encontrou no "Jardim das Delícias Terrenas", a catarse perfeita.
O óleo sobre madeira, de 220 cm x 389 cm, pode ser visitado actualmente no Museu do Prado, em Madrid.
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