Grito
Esperei até as horas formarem a sua sentença e me condenarem para sempre ao limbo perpétuo. Se tudo ao menos fosse claro e fácil de explicar, de exprimir e de revelar e não guardássemos arquivos pesados como nanadas de elefantes nas nossas entranhas, a acumular pó, a roubar-nos o brilho dos olhos e a sugar gotas do nosso sangue. O presente é feito de um pedaço do que já fomos do passado, é um caos desordenado de um futuro possível que ainda não teve lugar, de tudo o que não conseguimos entender mas que podemos antever talvez de forma intuitiva e espontânea. Enquanto estamos vivos, a lei da gravidade prende-nos e sufoca-nos, em cada respiração assoma o sabor da mortalidade e a dor da nossa condição imperfeita e errática. Falhar e sofrer são quase sinónimos de ser humano porque acontecem sumáriamente ao longo da nossa vida, mesmo quando não damos por isso. Mesmo quando não queremos racionalizar e nos esforçamos por dizer que está tudo bem e que não temos nenhum problema. A verdade é que