Momentos finais de vida


Um dos conselhos mais difundidos por especialistas de saúde mental para controlar estados de ansiedade e preocupação descontrolada é tentar visualizar a importância de um evento que tanto nos consome, da perspectiva do nosso leito de morte. 
Ao imaginar que determinado problema não terá qualquer importância a médio ou longo prazo, a pessoa fica mais livre para encará-lo como uma vicissitude momentânea, resolvê-lo o mais objectivamente possível e passar para o seguinte. Relativizar as coisas tendo em conta os últimos instantes da nossa existência é uma medida dramática mas que pode retirar às contrariedades do dia-a-dia, um peso que não merecem ter.
Num fascinante artigo do The Guardian, Susan Steiner refere os cinco principais motivos de arrependimento de pessoas à beira da morte, de acordo com Bronnie Ware, uma enfermeira australiana que trabalhou em cuidados paliativos, com pacientes nos últimos meses de vida. 
Em linhas gerais os arrependimentos mais frequentes foram: não ter coragem de viver sendo verdadeiro consigo próprio e apenas consoante o que os outros esperavam de si; ter trabalhado em demasia e negligenciado entes queridos; não ter tido coragem de expressar os seus sentimentos; não ter preservado convenientemente as amizades e não permitido a si mesmo a felicidade.
É um facto que nem sempre conseguimos organizar o tempo de melhor maneira e acabamos por negligenciar as pessoas mais importantes da nossa vida. O trabalho e a nossa azáfama diária roubam a energia e atenção daqueles que dela beneficiariam. Quando não há nada a esperar do futuro a não ser o final de tudo, ganha-se uma maior lucidez e clareza ao analisar ao passado e uma capacidade de ver que todas as possibilidades estão ao alcance de quem é saudável e forte. 
A liberdade da juventude é normalmente acompanhada pela pressão de ter de corresponder às expectativas, de ter bons desempenhos, de conseguir ter um determinado estilo de vida. Estar em sociedade implica, de certa forma, usar máscaras: sorrir quando se está triste, procurar ser o melhor profissional possível, ser delicado com quem nos magoa e não deixar que seja fácil inferiorizar-nos ou delegar-nos para segundo plano.
O momento em que somos reduzidos à verdade intrínseca da nossa condição, em que não há mais nada para esconder nem ninguém para impressionar, talvez seja aquele em que somos mais nós próprios, como deveríamos ser sempre.
Podemos evitar discordar com os outros para não ter aborrecimentos e manter a paz a um nível superficial mas se não lutarmos pelos nossos direitos e defendermos as nossas convicções e opiniões, estas nunca serão ouvidas. Análoga mente, se nunca perseguirmos o que realmente queremos vamos tornar-nos seres amargurados, mal resolvidos, mais propensos à inveja e ressentimento. 
O medo existe apenas na nossa cabeça, como qualquer outra emoção e desactivar o seu botão na mente não é, de todo, uma tarefa impossível. Manter os amigos por perto é fundamental para manter os pés no chão e não nos esquecermos de quem somos. São uma história viva, pronta a recordar-nos do que passámos, do que dissemos e de como nos comportávamos há anos atrás. As fotografias não podem falar, as verdadeiras testemunhas são as que estiveram ao nosso lado, mão na mão em cada passo da jornada.
Não conseguir exprimir o que se sente implica comunicação insuficiente e tensões emocionais, o que propicia a depressões e outros estados de alma nocivos.
De um ponto de vista educacional somos ensinados a por a obrigação acima do prazer (fazer primeiro os trabalhos de casa e só depois ir brincar, por exemplo) que em adultos há tendência para ter a felicidade dos outros como  prioridade (marido, filhos, etc), até se descobrir que uma parte de si se perdeu no meio de toda a confusão.Ora, se não somos felizes dificilmente conseguiremos fazer felizes aqueles que estão connosco todos os dias. Quando olharmos para trás, vemos que passamos pelos dias como uma lista de items numa agenda a riscar e não a sorvê-los devidamente, como um néctar dos deuses. É como ter tido uma paisagem linda à nossa frente e não a olhar uma única vez.
É essencial aprender a fazer melhores escolhas, romper com padrões e hábitos prejudiciais; entender que contentamento não é o mesmo que resignação e estabilidade nem sempre é sinónimo de bem-estar. É mais proveitoso desfrutar do que se faz, das recompensas dos esforços e encarar a existência como uma viagem do que levar tudo indiscriminadamente a sério, ser incapaz de rir e acordar todas manhãs com a sensação de entrar num campeonato.
Benjamim Franlin (1706-1790), um dos líderes da Revolução Americana, postulou como ingrediente para o êxito disse "Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje", É comum dizer-se que nos arrependemos mais do que nunca fizemos do que aquilo que tentámos e não correu bem. Não é benéfico viver com arrependimentos e, na medida do possível, há que viver com a intenção de no final, esta palavra estar pouco repetida no nosso vobulário.
Temos de ir encontro a todas as possibilidades consistentemente,  até as nossas forças se exaurirem. Não fazer ou adiar perpetuamente é mil vezes pior do que fracassar, não estar presente em absoluto na própria vida, não ver, não saber e não sentir seja o que for é mil vezes pior do que conhecer e sofrer.
Muito se fala sobre o valor de viver como se fosse o primeiro dia, com a novidade e exuberância das crianças mas não se pensa muito como serão os instantes finais.  
Cada dia em que nos defraudamos, em que não fomos tudo oque poderíamos ser, em que desistimos de nós mesmos antes de qualquer outra pessoa é tempo perdido que vamos ter de correr atrás persistentemente até ficarmos de contas ajustadas e de consciência limpa e tranquila para se defrontar com o toda a Eternidade.



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