As dificuldades do amor

 

A pintura a óleo “Romeu e Julieta” (1884) de Frank Bernard Dicksee foi recentemente considerada a obra-de-arte mais romântica do Reino Unido. O beijo entre o malogrado casal na noite de núpcias, antes da morte iminente, exprime os sonhos de paixão e intensidade, que ainda cativam o imaginário dos seus visitantes do Southampton City Art Gallery.
Associados ao amor arrebatador dos amantes de destino fatal, há a intensidade e a lealdade incondicional que séculos depois fazem sonhar milhões de pessoas em todo o mundo.
Contudo, todos sabemos que no amor nem tudo é belo e aprazível, havendo vários obstáculos a enfrentar no quotidiano. É sobre as maiores dificuldades de uma relação que versa um dos artigos da revista Oprah, com as opiniões de figuras conhecidas do panorama cultural norte-americano.
David Sedaris, humorista e e autor enfatiza uma das características mais prementes do amor: a volubilidade. De acordo com a sua experiência, os desejos imediatos de duas pessoas nem sempre coincidem (um pode querer um pouco de espaço justamente quando o outro quer estar junto, por exemplo) dando-lhe a sensação de que só ele naquele momento só ele foi atingido pela seta do Cupido. Como qualquer organismo vivo, o amor e as pessoas mudam constantemente, tornando qualquer relação instável por natureza. Nem sempre é possível conciliar processos de crescimento diferentes e a evolução do próprio sentimento. Num dia pode fluir gloriosamente e parecer mais forte do que nunca e no instante seguinte, ter-se esvaído para uma dimensão do espaço desconhecida.
Walter Kirn, ensaísta e romancista, refere que os problemas surgem porque primeiro vem o amor e só depois vem o conhecimento. No seu entender, não é possível aprender com o amor e é errado usar conhecimentos de experiências falhadas numa nova relação, pensando que se traduzirá irredutivelmente em bons resultados. De facto, cada pessoa é diferente e teremos de agir consoante o que descobrimos sobre ela e não apenas, em função de memórias guardadas à priori. O amor, tal como conhecimento, constrói-se e é quase inevitável não ter em conta todas as noções anteriores. Não conseguimos amar no vácuo, como uma tábua rasa e usamos os moldes incompletos do passado para novas tentativas, cujos resultados são totalmente imprevisíveis.
Por fim, a escritora Jo Ann Beard defende que todos os casamentos felizes terminam em tragédia "a verdadeira, majestosa e cegueira mais incandescente do amor é a recusa convicta em reconhecer que mesmo a união mais perfeita termina em tristeza". A autora aborda a dor ao entrar em casa, duas décadas depois do falecimento da mãe, acontecimento que lhe trouxe a convicção de que "não há nada demasiado mau que não possa acontecer". No seu entender, é a escuridão que torna a luz tão vívida, tal como nos quadros do século XVII, em que observam intrincados jogo de contrastes chiarooscuro para realçar o brilho da pele, dos olhos e os limites dos objectos. Jo Ann considera que é uma certa cegueira relativa aos perigos que faz heróis destemidos  como D. Quixote. De forma similar, só conseguimos entregar uma parte de nós, do nosso coração e vulnerabilidade se não ponderarmos exaustivamente nas consequências e no que virá a seguir.
Uma das melhores citações sobre a exaltação e devoção amorosa, independentemente das circunstâncias serem ou não favoráveis, encontra-se nas cartas da célebre poetisa americana Emily Dickinson (1830-1886). A um destinário nunca revelado, Emily escreveu "Open your life wide and take me in forever. I will never be tired I will never be noisy when you want me to be silent (...) Nobody else will see me but you- but that is enough- I shall not want anymore. Heaven will only disappoint me because it's not so dear"




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