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A mostrar mensagens de 2010

Grito

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Esperei até as horas formarem a sua sentença e me condenarem para sempre ao limbo perpétuo. Se tudo ao menos fosse claro e fácil de explicar, de exprimir e de revelar e não guardássemos arquivos pesados como nanadas de elefantes nas nossas entranhas, a acumular pó, a roubar-nos o brilho dos olhos e a sugar gotas do nosso sangue. O presente é feito de um pedaço do que já fomos do passado, é um caos desordenado de um futuro possível que ainda não teve lugar, de tudo o que não conseguimos entender mas que podemos antever talvez de forma intuitiva e espontânea. Enquanto estamos vivos, a lei da gravidade prende-nos e sufoca-nos, em cada respiração assoma o sabor da mortalidade e a dor da nossa condição imperfeita e errática. Falhar e sofrer são quase sinónimos de ser humano porque acontecem sumáriamente ao longo da nossa vida, mesmo quando não damos por isso. Mesmo quando não queremos racionalizar e nos esforçamos por dizer que está tudo bem e que não temos nenhum problema. A verdade é que

Loucura

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Será loucura ver o mundo todo negro quando ele é composto por várias cores? Será loucura que nos roubem o aconchego E a tranquilidade, as árvores e as flores? O meu coração era como um lago plácido E nunca foi como uma redoma de cristal Então senti que algo de mim se quebrava, não só rápido Como potencialmente mortal Serão as cores meras ilusões de ópticas? É melhor sofrer do que não sentir nada e viver dormente? Poderá comprar-se a alma por uma quantia módica E no mesmo dia escrever nela o rótulo "vende-se"? Talvez ande meio mundo a enganar meio mundo E ninguém saiba realmente o que é ser normal Pois que as duas forças: sanidade e loucura Permanentemente se duelam numa luta desigual O túnel da angústia é profundo e doí até respirar Ter a ousadia de ser diferente e não se conformar Talvez seja a resolução mais acertada e inteligente A atitude mais salutar

Complexo de Jonas ou o medo da auto-realização

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Durante anos lutei contra a minha tendência para a procrastinação (adiamento de tarefas que deveria idealmente fazer a uma data altura para outra posterior, basicamente: deixar tudo para a última da hora). Aplicava esta máxima para vários aspectos da minha vida, nomeadamente o estudo. A verdade é que quando pensava em estudar com mais antecedência para frequências ou exames começava a sentir-me de imediato tensa e desinspirada, ou seja, sentia à partida que o estudo não ia correr bem nem seria proveitoso. Por isso, o melhor era aproveitar para descontrair e passar o tempo de forma interessante certo? Atribui sempre este comportamento a qualquer peturbação psicosomática e alguma preguiça latente. As pessoas passam a vida a dizer que a vida é curta e confesso que em muitos dias não me parecia valer a pena preocupar-me mais do que o estritamente necessário com o que quer que fosse, com todas as consequências adversas que daí pudessem ocorrer. Ora, há um dias deparei-me através da platafo

"Fúria, fantasmas & Jewel"

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Livro: "Fúria Divina" (2009)_ No último semestre do ano passado foi lançada "Fúria Divina", a obra mais recente de José Rodrigues dos Santos que traz de volta a sua personagem Tomás Noronha, criptanalista e professor universitário e se propõe ser um relato ficcional baseado em factos verídicos acerca do mundo islâmico e particularmente da ameaça do terrorismo. Um dos chamativos utilizados para a publicidade referia o facto de todo o livro ter sido revisto por um ex-operacional da Al-Quaeda, como que a assegurar a completa fiabilidade do seu conteúdo. Polémicas à parte, o livro é de leitura fácil e satisfatória. Como todas as obras de José Rodrigues dos Santos resulta de um trabalho sério de pesquisa e há informação de sobra para percebermos melhor uma religião que apesar de ser monoteísta como a nossa e em muitos aspectos semelhante, está envolta num véu de contradições a nível de interpretação da palavra sagrada (o Alcorão) e do modo certo de agir para ser um bom

Tricotilomania- o desespero nos cabelos

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Todos os dias aprendemos algo novo que nos pode ensinar uma lição. A maioria das pessoas procura ter sempre uma boa aparência e é capaz de fazer sacrifícios, mesmo que pequenos, em busca dessa perfeição idealizada. Todavia, há outras raparigas que trilham areias movediças, num caminho instável de agonia. Sentem-se irremediávelmente sozinhas apesar de não isso não ser verdade. Ninguém o está. Em que é que descontamos a nossa frustração, raiva, impulsos agressivos, as partes de nós que são mais negras, mais vergonhosas, como lixo que não queremos que os outros vejam? Há quem roa as unhas, telefone a toda a gente na sua lista de contactos ou fique simplesmente a ver uma rodada de séries televisivas acompanhada de sobremesas hipercalóricas. Há quem chore durante horas como se o mundo fosse acabar e apareça aparentemente incólume e toda sorridente no dia seguinte. E há quem desconte num elemente, amplamente considerado um sinal de beleza e indicador do nosso estado de saúde geral: o cabel

Amor no reino animal

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Dizem que os seres humanos se distinguem dos restantes animais por serem racionais. Mas basta observar com atenção o comportamento de outras espécies, como mais notoriamente os primata e canina, para constatar que estes obedecem a uma lógica plausível e irrevogável. Todos temos um agudo instinto de sobrevivência, não será altamente discutível dizer que o Homo Sapiens é mais complexo que os outros animais? Afinal, quem é que sabe o que vai na cabeça deles? Dizem que os seres humanos são os únicos animais da natureza que têm a absoluta consciência de que vão morrer eventualmente. Mas basta observar um animal a agonizar num consultório de veterinário ou na rua, com uma doença incurável para pormos em causa essa crença. Os outros animais estabelecem os seus laços sociais também, têm um sistema de comunicação aperfeiçoados ao longo dos séculos e são capazes de experienciar sensações e sons tais como nós. A civilização humana inventou a comunicação verbal para descrever uma infinitude

In memorian

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Numa ilha onde tanto faz um calor abrasador num dia como um tempo coberto de uma deprimente névoa e chuviscos no dia seguinte (consequência provável do aquecimento global terrestre das últimas décadas) é quase inevitável não olharmos para trás, com alguma tristeza, nostalgia e saudade por aquilo que perdemos. E na primeira metade deste ano de 2010, Portugal perdeu dois cidadãos de vulto. Falo de Horácio Roque e José Saramago, seres humanos que pelo contributo excepcional que deram ao país e o mundo, merecem uma sincera homenagem e reflexão neste espaço. Horácio Roque nasceu a 12 de Abril de 1944 em Oleiros e faleceu a 19 de Maio de 2010 em Lisboa, no Hospital de São José, aonde se encontrava internado nos cuidados intensivos após ter sofrido um acidente vascular cerebral. Proveniente de uma família de origens humildes, partiu para Angola aos 14 anos de idade onde começou de imediato a trabalhar e a desenvolver um espírito dinâmico, visionário e empreendedor, que seria a sua imagem d

De volta da estratosfera

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Após a eliminação de Portugal no Mundial 2010 com uma derrota de 1-0 frente à Espanha o cenário para um pessimismo geral, contra o qual temos de lutar, continua a adensar-se cada vez mais. Não vou tecer muitos comentários sobre a qualidade da jogo em si, até porque só vi a primeira parte do jogo, mas creio serem injustas certas críticas contra os jogadores, que com certeza, fizeram o melhor que puderam para conseguir vencer a partida, o que infelizmente não aconteceu. O capitão da equipa, Cristiano Ronaldo, quer pela sua prestação, quer pela atitude macambúzia a seguir ao jogo, é que o tem levado com mais impropérios e insultos. O facto é que o futebol é um desporto feito por uma equipa e não por individualidades que se podem destacar ou não e a pessoa que tem mais responsabilidades e um estatuto de maior realce que os outros é quem no final, se as coisas dão para torto, fica com as culpas em cima. Creio que não devemos sentir vergonha nem raiva por esta eliminação. Não foi inglório pe

Lótus

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Os últimos meses foram marcados por conflitos e tumultos, de destacar aqueles ocorridos na faixa de Gaza e mais recentemente no México com o assassínio de um cantor e político local ao que tudo indica por quarteís de droga. Se juntarmos a isso todos aquelas crónicas de opinião relatando os poucos progressos mundiais no que respeia a sair da crise económica, as críticas cerrradas ao pacote de medidas de austeridade do Governo e a comparação desta depressão financeira com a Grande Depressão de 1929, temos todos os ingredientes para fazer uma sopa de pessimismo e desânimo. Sim, há uma percentagem preocupante de portugueses a viver no limiar da pobreza, portugueses desempregado ou em vias de perder casas ou carros e é muito díficil mudar um cenário que se afigura tão negro. Mas se apenas olharmos para um lado da tela, não conseguiremos ver que a outra parte, a mais brilhante continua a existir, apesar de tudo. Tal como sempre existiu. Mesmo que nos sintamos atolados em lama até ao pescoço,

Hibernação

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Quando pensamos no conceito de hibernação surge-nos na mente provavelmente um grande urso ou marmota, recolhido no conforto de quem tem reservas de gordura corporal suficiente para fazer face ao Inverno sem precisar de caçar para sobreviver. Pensamos também em termos como torpor, letargia, sonolência e inactividade. E quanto a nós, animais racionais, o que faz hibernar os humanos? São muitas coisas na nossa vivência diária que nos fazem ter vontade de fugir de tudo e de nos escondermos num sítio quente e seguro até as tempestades passarem. Mas existem sempre razões para continuarmos a fazer as mesmas coisas, muitas vezes como autómatos, sem saber muito bem porque insistimos nos mesmos actos errados. Há dois motivos principais que nos restantes animais conduzem ao estado de hibernação: o frio e a falta de alimento. E connosco? Porque é que é tão fácil não conhecermos quem somos e passarmos anos, talvez uma vida inteira, hibernados? Um dos motivos mais comumente apontados é a p